Uma caixinha de surpresas

O estresse dessa rotina cotidiana nos deixa cansado, por isso no fim de semana resolvi passear sem destino pelas ruas da cidade, dirigindo em velocidade cadenciada, quero ser um observador dos detalhes arquitetônicos da cidade.

Tantas árvores decoram a avenida e perto do aeroporto um grande avião parecia que ia cair sobre mim, mas continuei mesmo assim. Contornei uma grande ponte toda raiada que a Globo insiste em mostrar e quando parei no farol, que o passeio realmente começou a me interessar.

Uma grande tenda foi montada para chamar a atenção e ninguém se interessava em olhar, porém o farol ficou vermelho e eu tive que parar. Várias pessoas com caixinhas estranhas na mão caminhavam até os carros e pareciam fazer mágicas para as pessoas, porém distante eu não conseguia entender.

Entre eles havia uma garotinha com uma caixinha marrom na mão que correu até mim, fiquei curioso para saber que mágica ela ia fazer, então entreguei toda a minha atenção a ela que falou:

- Você quer ver a minha caixinha de surpresa?

- Quero!

- Tome! Pega ela e abre.

Abri a caixinha e não tinha nada, mas quando retornei meu olhar para a garotinha, ela tinha se transformado e estava com o rosto todo maquiado e pintado instantaneamente como uma palhacinha.

- Como você fez isto?

- É segredo! Quer uma surpresa muito maior?

- Quero!

- Então me devolve a caixinha!

Ela virou de costas para mim, abriu a caixinha, assoprou dentro dela, depois fechou e entregou outra vez em minha mão. Abri novamente a caixinha e não tinha nada dentro. Olhei novamente para a garotinha e nada tinha mudado, pois ela continuava com o rostinho pintado de palhacinha, então falei:

- Sua mágica falhou! Nada aconteceu!

- Você tem certeza! Então olha o seu rosto.

Eu olhei no espelho do carro e não acreditei no que vi. Meu rosto estava pintado com uma maquiagem que expressava a figura de um palhaço feliz.

Você fez as suas surpresas. Agora é a minha vez! Estacionei o carro. Tirei um sapo manuseado por cordões e participei com ela naquela festa da arte.
Ela corria no meio dos carros na frente, enquanto eu a seguia com o meu sapo pulando e fazendo Ploc! Ploc! Sempre atrás dela, até a festa acabar. Ela fazia mágicas com sua caixinha enquanto meu sapo pulava na cabeça dela. Ela ria e ele pulava nos ombros dela, depois pulava no teto do carro e via sua impressionante habilidade de realizar mágica.

A noite chegou e toda aquela brincadeira maravilhosa da arte acabou. Até hoje não sei se a mágica estava na caixinha ou nas mãos daquela menininha, só sei que a festa terminou. A grande tenda foi desmontada e todos os artistas se despediram e foram embora levando na bagagem seus segredos.

Na hora da despedida resolvi lhe fazer uma última surpresa. Ajoelhei na frente dela para ficar da mesma altura porque ela era pequenininha e falei:

- O sapo chorão está chorando porque ele quer ir embora com você. Leve ele para você caixinha de surpresa! Ela agarrou o sapo com tanto amor, abraçou e apertou, depois falou:

- Eu também vou te fazer uma última surpresa! Ela virou de costas para mim, assoprou na caixinha, depois fechou, virou e me entregou.

Imediatamente eu abri a caixinha e nada aconteceu. Tudo estava praticamente igual, nada mudou. Ela falou: Adeus Ziii! Depois foi embora correndo com o sapo chorão nos braços para o carro dos pais, me deixando com a caixinha mágica de surpresa na mão.

Fiquei surpreso, pois não aconteceu nada e eu fui o último a sair do local. Porém quando eu entrei no meu carro e olhei no espelho tive outra grande surpresa, pois meu rosto voltara ao normal. A pintura de palhaço havia sumido, dando a impressão de que eu estava mergulhado em um sonho e nada havia acontecido, porém eu continuava com a caixinha de surpresas na minha mão.

Eu nunca consegui fazer uma mágica com aquela caixinha, mas a guardo com carinho, pois com certeza tem alguma surpresa escondida dentro dela.

Fui embora seguindo por aquela grande ponte iluminada e pensando: Que surpresa feliz!

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Paulo Ribeiro de Alvarenga